23/02/2011

Grandes teólogos da Igreja Primitiva



Justino Mártir (100 a 165)
Justino talvez seja  seja o maior  dos Apologistas - escritores cristais do século II que se dedicavam à defesa do cristianismo diante de intensas críticas de origem pagã. Em sua obra “Primeira apologia”, Justino defendeu que podem ser encontrados sinais da verdade cristã em grandes escritores pagãos. Sua doutrina do LOGOS SPERMATIKOS (“palavra geradora”) permitiu-lhe afirmar que Deus havia preparado o caminho para a sua revelação final em Cristo por intermédio dos indícios de sua verdade, que estavam presentes na filosofia clássica.  Justino nos fornece um importante exemplo inicial da tentativa de um teólogo em relacionar o evangelho à perspectiva da filosofia grega, tendência particularmente associada à Igreja oriental.


IRINEU DE LINON -  130 A 200
Acredita-se que Irineu tenha nascido em Esmirna (atual Turquia), embora posteriormente tenha se estabelecido em Roma. Tornou-se, por volta de 178, Bispo de Lion, posição que ocupou até a sua morte, duas décadas depois. Irineu é especialmente notável por sua defesa veemente da ortodoxia cristã, em face da objeção apresentada pelo gnosticismo. Sua obra mais importante “Contra as Heresias” representa uma defesa importante  da compreensão cristã a respeito da salvação e, especialmente, do papel da tradição em se manter fiel ao testemunho apostólico, diante de interpretações não-cristãs.

ORÍGENES -  185 A 254
Orígenes, um dos mais importantes defensores do cristianismo do Século III, forneceu uma base importante para o desenvolvimento do pensamento cristão oriental. Suas contribuições  mais relevantes para o desenvolvimento da teologia cristã podem ser vistas em duas áreas principais. Orígenes, no campo da interpretação bíblica, desenvolveu a noção de interpretação alegórica, argumentando que se deveria fazer uma distinção entre o sentido superficial das escrituras  e seu sentido espiritual mais profundo. No campo da cristologia, Orígenes consolidou a tradição de se distinguir entre a divindade plena do Pai e uma divindade limitada do Filho. Alguns  estudiosos veem o arianismo como conseqüência natural dessa abordagem. Orígenes também adotou, com algum entusiasmo, a ideia de apocatastasis, segundo a qual toda criatura -  incluindo tanto o ser humano quanto Satanás -  será salva.

TERTULIANO – 160 – 225
            A princípio, Tertuliano foi um pagão originário da cidade de Cartago, no norte da África, que se converteu ao cristianismo quando tinha  cerca de 30 anos. Ele, com freqüência, é considerado o pai da teologia latina em razão do tremendo impacto que teve sobre a igreja ocidental. Defendeu a unidade do Antigo e do Novo Testamento contra Marcião, que argumentava que ambos se relacionam a deuses distintos e, não, a um mesmo Deus. Ao fazer isso, Tertuliano lançou as bases para a doutrina da Trindade. Ele se opunha intensamente ao fato de a teologia ou a apologética cristãs tornar-se dependentes de fontes estranhas às escrituras. Ele está entre os primeiros representantes mais influentes que defenderam o princípio da suficiência das Escrituras, o qual condenava aqueles que recorriam às filosofias seculares para alcançar algum conhecimento verdadeiro de Deus (como os que pertenciam à Academia de Atenas).

ATENÁSIO – 296 – 376
A importância de Atanásio está relacionada, principalmente, a temas da cristologia que se tornaram relevantes ao longo do século IV. Ele, provavelmente por volta de vinte anos, escreveu o tratado DE INCARNATIONE VERBI (A encarnação do Verbo), uma defesa poderosa da ideia de que Deus assumira a natureza humana na pessoa de Jesus Cristo. Esse tema mostrou-se de importância crucial na controvérsia arianista, à qual Atanásio deu grande contribuição. Ele ressaltou que se Cristo não era plenamente Deus, como alegava Ário, desse fato resultava uma série de implicações. Primeiro, era impossível para Deus salvar a humanidade, pois nenhuma criatura poderia redimir outra. Em segundo lugar, cristãos regularmente louvavam e oravam a Cristo. A “idolatria” pode ser definida como a “adoração de algo construído ou criado pelo ser humano”, desse fato resultava que essa adoração era idólatra. Por fim, esses argumentos venceram e levaram à rejeição do arianismo.

AGOSTINHO DE HIPONA – 354 - 430
Ao falar de Aurelius Augustinus, conhecido normalmente como Agostinho de Hipona -  ou simplesmente Agostinho -  deparamo-nos talvez com a mente mais brilhante e influente da igreja cristã por toda sua longa história. Agostinho, atraído ao cristianismo pela pregação do Bispo Ambrósio de Milão, vivenciou uma dramática experiência de conversão. Agostinho, que aos 32 anos não havia ainda satisfeito seu ardente desejo de conhecer a verdade, encontrava-se em um jardim de Milão, debatendo-se com as importantes questões sobre a natureza e o destino humanos, quando teve a impressão de ouvir, próximo dali, algumas crianças cantando TOLLE, LEGE (Toma e lê). Interpretou esse fato como orientação divina e tendo à mão o Novo Testamento -  na verdade  a Carta de Paulo aos Romanos -  leu as proféticas palavras: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo (Rm 13.14). Para Agostinho, cujo paganismo havia se tornado cada mais difícil de ser mantido, essa foi a gota d’água. Posteriormente, como ele mesmo relembrou, “uma luz de convicção invadiu meu coração e dissipou toda sombra de dúvida”. A partir desse momento, Agostinho dedicou sua imensa capacidade intelectual à defesa e à consolidação da fé cristã, escrevendo em um estilo quer era, ao mesmo tempo, apaixonado e inteligente, o qual apelava tanto à mente quanto ao coração.
Agostinho, provavelmente por sofrer de algum tipo de asma, deixou a Itália e retornou ao norte da África, onde, em 395, tornou-se bispo de Hipona (na atual Argélia). Em seus trinta e cinco anos restantes, testemunhou numerosas controvérsias de importância fundamental para o futuro da igreja cristã no ocidente, e a contribuição de Agostinho foi decisiva para a solução de cada uma delas. Sua exegese do Novo Testamento, em especial das cartas de Paulo, concedeu-lhe a reputação, que ainda hoje lhe é atribuída, como “o segundo pai da fé cristã” (Jerônimo).
Uma parte fundamental da contribuição de Agostinho é o desenvolvimento da teologia como uma disciplina acadêmica. Na verdade, não se pode dizer que a igreja primitiva tenha desenvolvido  gualquer forma de “teologia sistemática”. A preocupação fundamental da Igreja Primitiva era defender o cristianismo das críticas que  lhe eram feitas (como se percebe nas obras apologéticas de Justino Mártir), bem como, esclarecer os aspectos centrais do pensamento cristão, paara combater a heresia (como se nota na obra de Irineu, que ataca o gnosticismo). Contudo, ao longo dos quatro primeiros séculos, um substancial desenvolvimento doutrinário ocorreu particularmente em relação às doutrinas da pessoa de Cristo e da Trindade.

Organização: Professor Anderson Cruz

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