Um dia Elias entrou na caverna. Nos dias anteriores muitas coisas
aconteceram, muito sentimentos, sonhos, projetos, muitos caminhos se
apresentaram ao profeta. Reis já tinham sido mortos, 800 profetas tinham sido destruídos,
altares a outros deuses derribados. Mas Elias entrou na caverna naquele dia.
Não foram necessários 800 guerreiros, nem um exército poderoso e implacável. Foi
necessário apenas uma palavra, uma ameaça, uma possibilidade de Jesabel ir
contra ele para fazê-lo parar.
Já entrei nas cavernas da vida algumas vezes. Não é um lugar
bom pra se estar. É um lugar úmido, muitos insetos, barulhos estranhos. O
coração aperta, o nó na garganta quase sufoca e a dor da alma parece
insuportável. Como puder chegar até aqui? Onde foi que eu me perdi do caminho e
peguei este atalho que me trouxe até escuridão toda?
Lágrimas. Mais lágrimas. Parece, nessas horas, que todos os
nossos monstros vêm à tona a nos assombrar e a solidão nos faz esquecer os
milhares de pessoas que nos amam e que intercedem por nós. Parece insano, mas
nesses momentos nos sentimos tão sozinhos, tão incompreendidos que, até mesmo
olhar no espelho, parece uma sessão de tortura.
No entanto, há algumas coisas boas que acontecem na caverna.
Na caverna Deus usa o improvável para nos alimentar e nos mostrar que no meio
daquela escuridão toda ele está lá, braços abertos, olhos e ouvidos atentos,
coração latente para perdoar. Na caverna, nossos sentidos ficam mais aguçados.
O silêncio predomina e, quanto maior o silêncio, maior é a nossa capacidade de
ouvir os inaudíveis sons. Ouvir a voz de Aba! Sentir seu acalentador abraço!
Deixar-se envolver pelo perfume do seu amor e embriagar-se por sua imensa misericórdia.
Quanto estou na caverna descubro quem sou, de quem eu
dependo e em quem posso me deleitar. Aprendo que se eu me deleitar, se eu me
jogar no colo, deixar-me ser literalmente conduzido, livre das minhas
expectativas, livre das minhas conjecturas e dos meus argumentos, Deus cuidará
de mim. Aprendo que se eu confiar de verdade, se eu perder o medo de dizer pra
ele como estou e o que estou sentindo lá no escondido da minha alma, ele
compreende, ele entende, ele perdoa.
Estou na caverna. Mas em breve irei sair dela, alimentado,
fortalecido, reerguido, cabeça pra cima, restituído.
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