DEUS
Eu sei que já faz um tempo que você está me esperando para esta conversa. Sei que todo dia o Senhor olha pela janela, esperando que eu te procure, que eu me deite no teu colo, que tire tempo para te escutar, para falar contigo.
Eu relutei, confesso. Tentei fingir que não tinha me afastado, perdido a fé, enfraquecido na caminhada. Relutei em assumir que estava ausente, aprisionado em minhas urgentes questões e me esqueci de ti.
Tirei tempo para comprar, trabalhar, me divertir, falar com meus melhores amigos e, até, com aqueles não tão amigos. Mas não, eu não quis encontrar tempo para falar contigo. Confesso que pensei que iria conseguir te ignorar, te deixar para lá com mais facilidade. Pensei que o Senhor não faria tanta falta na minha vida. Mas me enganei..
Por mais que eu finja que está tudo bem, que estou seguindo um caminho melhor na contra-mão da tua vontade e que estou feliz com esta escolha, confesso que não estou. As coisas até vão bem. Tenho um bom emprego, um bom casamento, uma realização profissional como nunca tive. Tenho amigos que me amam, que acreditam em mim. Também tenho o abraço gostoso da minha esposa todo dia, o olhar carinhoso da minha família.
Sim. Está tudo bem com tudo. Mas sinto que falta algo. Falta em mim a paz da tua presença, a alegria da tua voz. Falta a alegria de te chamar de "pai". Sinto falta de clamar por "Aba". Sinto falta de confiar em ti, de confiar na tua mão, de me deleitar no teu querer.
É por isso que estou aqui. Eu vi para dizer que não sei viver sem ti, que não me acostumo à falta da tua presença, que preciso novamente ouvir a tua voz, sentir o acalentar do teu coração. Eu vim porque quero voltar de onde caí, quero reerguer o meu altar, voltar ao início de tudo, para te ter por perto como antes.
Eu vim, paizinho, para dizer que te amo, que preciso de ti, que sem a tua direção eu fico perdido, desviado, caminhando para o matadouro.
Te amo, Aba.
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